Atenção à saúde mental

Participantes do Treinamento Guardiões da Vida destacam a importância de quebrar o tabu em torno do suicídio para salvar vidas

Cobram também a criação, por parte do TJCE, de uma política institucional voltada para a saúde mental. Além disso, alertam que o adoecimento de servidores e magistrados pode gerar afastamentos, trazendo problemas à prestação jurisdicional

23/09/2022
Fotos: Luana Lima/Sindojus Ceará

Como parte dos trabalhos com foco na promoção da saúde mental de todos aqueles que compõem o Poder Judiciário, o Sindicato dos Oficiais de Justiça do Ceará (Sindojus-CE) e a Comissão Corrente da Vida – formada pela diretoria e por oficiais e oficialas de Justiça voluntários –, realizaram, na última terça-feira (20), o Treinamento Guardiões da Vida, ministrado pelo tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Edir Paixão; e pela promotora de Justiça Karine Leopércio, coordenadora do Programa Vidas Preservadas, do Ministério Público do Ceará (MPCE).

A formação, que teve como objetivo transformar cada participante em um agente de prevenção do suicídio, em que a pessoa seja capaz de identificar os sinais de alerta, os fatores de prevenção, a maneira correta de abordar quem possa estar com ideação suicida e fazer o encaminhamento para ajuda profissional, contou com mais de 60 participantes, entre Oficiais de Justiça, magistrados, servidores, psicólogas, advogados, além de membros do Ministério Público e da Defensoria Pública.

O presidente do Sindojus, Vagner Venâncio, durante a abertura do evento.

O evento contou com a participação do secretário de Gestão de Pessoas, Felipe Mourão; do juiz superintendente da Central de Cumprimento de Mandados Judiciais (Ceman) de Fortaleza, Agenor Studart Neto; do juiz diretor do Fórum de Quixadá, Isaac de Medeiros Santos; além de gestores; técnicos e analistas judiciários; e Oficiais de Justiça da capital e da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

Quebrar tabu

Os participantes destacaram a importância de quebrar o tabu que ainda existe em torno do suicídio e de ser criada, por parte da administração do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), uma política institucional voltada para a saúde mental de servidores e magistrados. Além disso, alertaram que o adoecimento de servidores e magistrados pode gerar afastamentos, trazendo problemas à administração e à prestação jurisdicional no Estado.

“Essa iniciativa é muito importante no sentido da prevenção e para mudar essa visão que as pessoas têm em torno do suicídio, que ainda é visto como tabu, quando na verdade deve ser tratado naturalmente, até para que se possa prevenir e evitar que vidas sejam perdidas de uma maneira tão trágica, quando são evitáveis, totalmente evitáveis”, frisou a Oficiala de Justiça Larissa Dantas.

“O ambiente profissional pode ser muito adoecedor, em especial, para os Oficiais de Justiça, então eu acredito que a iniciativa do sindicato e de todos os envolvidos é muito importante no sentido da prevenção e também para mudar essa visão que as pessoas têm em torno do suicídio, que ainda é visto como tabu, quando na verdade deve ser tratado naturalmente, até para que se possa prevenir, para evitar que vidas sejam perdidas de uma maneira tão trágica, quando são evitáveis, totalmente evitáveis”, observou a Oficiala de Justiça Larissa Dantas, da comarca de Maracanaú.

Na avaliação de Larissa, o treinamento foi prático, efetivo e com muitas referências importantes para que os participantes possam se aprofundar no tema. “É muito positivo para toda a categoria que estejamos discutindo sobre esse assunto”, disse.

Para o Oficial de Justiça Adriano Macatrão, da Ceman de Fortaleza, “o treinamento foi pontual, relacionado à prevenção do suicídio, que é um tema que não é fácil de ser abordado, transmitido pelo Edir Paixão de uma forma lúdica, mas também objetiva”. Enquanto membro da Comissão Corrente da Vida, ele informou outras oficinas e iniciativas deverão ser desenvolvidas com o objetivo de que o tema seja desmistificado e inserido institucionalmente no organograma do TJ, a exemplo do Programa Vidas Preservadas que existe no Ministério Público. “Parabenizo o sindicato e todos os que fizeram essa iniciativa acontecer”, enalteceu.

“Podemos ser ponte para salvar vidas”

O Oficial de Justiça Fernando Melo, da Ceman de Fortaleza, disse que nos últimos tempos, em especial por causa da pandemia, a categoria dos Oficiais de Justiça percebeu que os problemas de ordem psíquica aumentaram bastante, o que pode ser percebido facilmente. Diz, ainda, que os Oficiais de Justiça, que estão nas ruas, identificam situações bem delicadas e difíceis, portanto, exaltou que a oferta do treinamento é uma iniciativa de grande importância, pois dá aos participantes aprendizado e conhecimento. “Nós podemos ser ponte para quem sabe salvar uma vida ou dar um direcionamento melhor para pessoas em situação de vulnerabilidade emocional”, destacou.

“Nós podemos ser ponte para quem sabe salvar uma vida ou dar um direcionamento melhor para pessoas em situação de vulnerabilidade emocional”, destacou o Oficial de Justiça Fernando de Melo.

E complementou. “O sindicato, mais uma vez, está de parabéns por ter conseguido vislumbrar toda essa situação. A gente espera que iniciativas como essa sejam cada vez mais fomentadas e fortalecidas, e que venha a ser uma política institucional por parte do Tribunal de Justiça, no sentido de dar uma atenção maior aos seus servidores”, salientou. Na visão de Fernando, esse cuidado não deixa de ser uma medida administrativa, uma vez que o adoecimento pode gerar afastamento, aumentando a sobrecarga de trabalho. “É uma excelente iniciativa, a gente espera que tenha continuidade”, reforçou.

Zuilton Medeiros, Oficial de Justiça da Ceman de Fortaleza, disse que o curso foi bastante proveitoso e serviu para alertar em relação ao risco de suicídio. Ele lamentou, porém, mais colegas não terem participado, visto que se trata de um tema importante e atual, que “só faz enriquecer as nossas vidas”.

“Muitas vezes lidamos com pessoas em situação vulnerável, muitas delas compartilham conosco os seus problemas, então as palavras que foram ditas aqui, principalmente os sinais de alerta, já nos deixa atentos para quando uma pessoa proferir essas palavras a gente já saber como se comportar diante dessas situações”, comentou. O oficial defende que sejam realizadas mais ações como essa, com palestras e treinamentos, e que seja um trabalho permanente.

O secretário de Gestão de Pessoas, Felipe Mourão, disse que estão procurando, no âmbito da SGP, desenvolver ações e pensar em ideias para expandir essa atenção à saúde mental.

Atenção à saúde mental de servidores

“Perguntaram-me se eu teria agenda para participar, mas mesmo que não tivesse a gente tem que dar um jeito, porque a temática é muito importante e todos nós sofremos muito neste ano, especialmente, em razão dos acontecimentos ocorridos no Poder Judiciário”, disse secretário de Gestão de Pessoas, Felipe Mourão. O gestor informou que o tribunal conta com médicos, nutricionistas e enfermeiros, mas apenas um psicólogo e que, no âmbito da SGP, estão procurando desenvolver ações e pensar em ideias para expandir essa atenção à saúde mental.

Felipe Mourão contou que assumiu a secretaria há pouco tempo e ainda está na fase de organizar as peças, e aproveitando o momento que o tribunal está vivendo, de buscar inovação, informou que a SGP gostaria de receber sugestões de como aprimorar a saúde mental dos servidores. “Agradeço ao sindicato por estar preocupado com esse tema e por promover essa iniciativa. Gostaria de pedir que a gente possa expandir esse programa e essa ação”, falou.

A titular da Coordenadoria de Atenção à Saúde (CAS) do TJ, Mônica Nogueira, explicou que, dentro da campanha do Setembro Amarelo, as ações estão relacionadas a palestras ou rodas de conversas, assim como a diretoria do Fórum Clóvis Beviláqua, que também desenvolve ações, e destacou a importância da promoção, pelo Sindojus, do Treinamento Guardiões da Vida, por meio do Programa Vidas Preservadas.

“Gostaria de parabenizar o sindicato pela iniciativa que, sem dúvida, está fazendo toda a diferença. A ideia é que a gente possa unir forças para que essas ações sejam continuadas e surtam um efeito maior, para que a gente consiga alcançar um maior número possível de servidores”, frisou.

Relevância do tema

O juiz superintendente da Ceman de Fortaleza, Agenor Studart Neto, parabenizou o sindicato pela iniciativa e por lembrar desse tema tão importante, que é a saúde mental e a prevenção do suicídio. “Esse treinamento é fundamental e a palestra do tenente-coronel é muito boa. Parabéns mais uma vez ao sindicato”, reiterou.

Isaac de Medeiros, juiz diretor do Fórum de Quixadá, fez questão de prestigiar a capacitação e enfatizou que continua à disposição para que possam fazer novos eventos, a exemplo da palestra que foi realizada em Quixadá. “Infelizmente, a gente teve aquela tragédia, mas esperamos que novos acontecimentos não venham a ocorrer no Poder Judiciário. Temos que continuar trabalhando. É uma iniciativa louvável do sindicato, do Tribunal de Justiça e dos demais órgãos parceiros, que tenhamos êxito”, expressou.

O evento contou com a participação de mais de 60 pessoas, entre Oficiais de Justiça, magistrados, servidores, psicólogas, advogados, além de membros do Ministério Público e da Defensoria Pública.

Agradecimentos

O presidente do Sindojus, Vagner Venâncio, agradeceu o apoio que vem sendo prestado pelo tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Edir Paixão, e pela promotora de Justiça Karine Leopércio, que abraçaram essa causa e têm sido fundamentais para que o sindicato e a Comissão Corrente da Vida pudessem materializar esse projeto, fomentando o debate e levando informação aos servidores, magistrados e todos aqueles interessados na questão da saúde mental. Agradeceu ainda, em nome da Oficiala de Justiça Carla Barreto, a todos os oficiais e oficialas que não são da diretoria, mas que estão trabalhando firmemente por esse projeto.

“A gente fica muito feliz de poder contar com vocês nesse trabalho tão positivo, de exercer a empatia e trazer para nós, profissionais do judiciário, a importância do cuidado com o outro. Muito obrigado”, reforçou o representante da categoria.

A promotora de Justiça Karine Leopércio disse que o Vidas Preservadas é quem agradece o convite feito pelo Sindojus, de estar discutindo sobre saúde mental, os fatores de proteção, a prevenção e a posvenção ao suicídio. “Eu tenho certeza de que as políticas em torno do fortalecimento da saúde mental dos Oficiais de Justiça será um ponto bastante positivo. Parabenizo o sindicato pela iniciativa”, frisou.

Promoção de saúde e preservação de vidas

O tenente-coronel Edir Paixão, que durante três horas ministrou a capacitação, manifestou que é um privilégio poder compartilhar conhecimentos para prevenir suicídios e proteger a vida. Explicou também que o treinamento se deu em cinco passos: conhecer o suicídio e a sua prevenção; identificar sinais de alerta associados ao suicídio; saber fazer uma escuta e um diálogo em situações de crise; encaminhar aos serviços de saúde; e realizar o acompanhamento dessas pessoas que foram encaminhadas para o tratamento de saúde física e mental.

“Esses cinco passos têm sido aplicados no Corpo de Bombeiros e em outras instituições com excelentes resultados de promoção de saúde e preservação de vidas. Estamos felizes por poder contribuir”, reiterou.

Logotipo da Comissão Corrente da Vida

Comissão Corrente da Vida

Essa é a segunda ação desenvolvida pelo Sindojus e pela Comissão Corrente da Vida. A primeira foi a realização, em junho deste ano, em Quixadá, da palestra “A preservação da saúde mental e da vida nas carreiras jurídicas: um debate urgente. O evento contou com a participação de três, dos quatro magistrados da comarca, além de representantes da OAB Subseção Sertão Central, do Ministério Público, da Defensoria Pública, do Corpo de Bombeiros, servidores do Poder Judiciário e estudantes de Direito.

Os trabalhos, no entanto, não param por aí. Deverá ser confeccionada uma cartilha voltada especificamente para a categoria dos Oficiais de Justiça destacando a importância da saúde mental, indicando os sinais de alerta e trazendo informações de como acolher pessoas que estejam passando por algum tipo de sofrimento de ordem mental, além de outras ações que no momento oportuno serão divulgadas.

A diretoria do sindicato está em constante diálogo com a administração do Tribunal de Justiça reforçando a importância de ser criada uma pauta permanente sobre o tema, assim como protocolos de atendimento para os casos críticos, o que deverá ser feito por meio de resolução ou portaria, no sentido de que se torne uma política institucional e não apenas um projeto de gestão.

Busque ajuda profissional

“A vida é sempre a melhor solução” é o slogan da Comissão Corrente da Vida. Tristeza, sensação de vazio, sentimento de culpa, baixa autoestima, sono e apetite alterados, cansaço, falta de concentração, irritabilidade, além de interpretação distorcida e negativa da realidade são alguns sintomas de depressão. Caso você esteja sentindo algo assim, lembre-se que para todo problema há solução. Não hesite em buscar ajuda profissional.

Em todo o Estado, esse apoio é prestado pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e por unidades como o Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM) e o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC). É feito atendimento também no Programa de Apoio à Vida (Pravida) da Universidade Federal do Ceará (UFC): (85) 3366.8149 e (85) 98400.5672. E de forma remota pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), por meio do número 188 ou pelo site www.cvv.org.br.

Nos casos de urgência e emergência, deve-se acionar a Polícia Militar do Ceará (PMCE) pelo 190, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no 192 ou o Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) no 193.

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Luana Lima

Jornalista

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