Especialista diz que a pandemia dificulta o diagnóstico precoce e chama a atenção para importância da prevenção
No Brasil, o câncer de mama é o segundo em incidência e a principal causa de morte entre mulheres. Com a pandemia, o que mais tem dificultado a prevenção tem sido conseguir fazer o diagnóstico precoce
No Brasil, o câncer de mama é o segundo em incidência e a principal causa de morte entre mulheres. E isso apesar das altas chances de cura, quando detectado precocemente. Conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2020, 64 mil casos novos foram diagnosticados em brasileiras com 30 anos ou mais. Além da baixa adesão aos exames preventivos, os especialistas se preocupam com os desdobramentos da pandemia de Covid-19, já que as medidas de isolamento social postergaram a realização de consultas médicas e exames. Para falar sobre o assunto, a série Sindojus Saúde deste mês de outubro entrevistou a ginecologista e mastologista da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), Milena Viana de Holanda.
A especialista comenta que o que mais tem dificultado a prevenção tem sido conseguir fazer o diagnóstico precoce, o que foi agravado com a pandemia. “No cenário atual, com a Covid-19, a situação piorou. Infelizmente, a gente pega muitas pacientes com diagnóstico tardio e esse cenário tem aumentado. Temos diagnosticado muitas pacientes com câncer de mama já avançado”, afirma.
Detecção
Em grande parte dos casos, o câncer de mama pode ser detectado nas fases iniciais, aumentando a possibilidade de tratamentos menos agressivos e com taxas de cura satisfatórias. A especialista ressalta a importância de as mulheres realizarem o autoexame. “Ela se coloca na frente do espelho sem blusa, sem sutiã e examina a mama, se tem alguma alteração na cor da pele, nos mamilos, e apalpa. No início a mulher tem medo, pois, ao apalpar, observa algumas alterações que geram certa dúvida, mas é uma questão de se conhecer. A partir do momento que você vai repetindo esse processo, ele vai se tornando cada vez mais fácil”, esclarece.
A recomendação é de que as mulheres façam autoexame a partir do momento que começam a ter ciclos menstruais. Quando já não menstrua mais, porque entrou na menopausa ou porque fez uma histerectomia, ela deve continuar realizando esse autoexame em um determinado dia do mês. “Todo dia 5 ou todo dia 10, por exemplo”, cita a mastologista. O indicado é que o processo seja feito durante toda a vida. A médica, no entanto, reforça que o autoexame nunca vai substituir a mamografia, que deve ser realizada a partir dos 40 anos, uma vez por ano.
Fatores de risco
O câncer de mama não tem só uma causa. Trata-se de uma doença multifatorial. Existem os fatores genéticos e hereditários, como histórico familiar; reprodutivo e hormonal, com relação a mulheres que não tiveram filhos ou que tiveram em idade um pouco mais avançada; e os chamados fatores de risco modificáveis, relacionados com o consumo de bebida alcoólica, obesidade e sobrepeso, tabagismo, sedentarismo e má alimentação. Com a modificação dos hábitos de vida, Milena Holanda afirma que é possível reduzir em 40% o risco de ter câncer de mama.
“Quanto antes começar a modificar os hábitos de vida, fazer atividades físicas regulares, melhorar a alimentação, abandonar a ingestão de bebida alcoólica melhor para poder prevenir a ocorrência do câncer”, frisa.
Sintomas
Na grande maioria dos casos, o câncer de mama é uma doença silenciosa. Por isso a importância de realizar mamografia, para identificar a doença na fase inicial, aumentando as chances de cura. Apesar de muitas pacientes relatarem dor no seio, a especialista diz que esse não é um sinal de alerta, uma vez que a mama pode doer em algumas situações. Antes do período menstrual, por exemplo. Entre os sintomas mais comuns estão: aparecimento de nódulos, saída de secreção pelo bico do peito, alterações na cor da pele, inchaços na mamam e região da axila.
“Essas alterações são visíveis, palpáveis. É nesse sentido que a gente indica que a paciente realize a mamografia, para ter condições de detectar uma lesão quando ainda não é palpável, quando ainda não é visível”, ressalta.
Alto risco
Pacientes de alto risco são aquelas que têm parente de primeiro grau, mãe ou irmã, com câncer de mama. Nestes casos, a especialista diz que o indicado é iniciar o rastreamento dez anos antes do caso. “Por exemplo, se a minha mãe tem um diagnóstico de câncer de mama aos 47 anos, vou começar a fazer a mamografia a partir dos 37 anos”, explica. Pode ser necessário que, pela questão da estrutura da mama e da idade, quando a paciente ainda é muito jovem, ela não faça esse rastreamento só com a mamografia. Talvez haja necessidade de complementação com outros exames. Nos casos de pacientes de alto risco, a orientação é de que procure um médico especialista para fazer a avaliação e o acompanhamento.
Tratamento
Nas últimas décadas, o tratamento do câncer de mama evoluiu bastante. Milena Holanda informa tem tratamentos cada vez mais personalizados para o tipo de câncer que a pessoa tem. Evoluiu também com relação às cirurgias, que podem ser menos agressivas e mais rápidas. E com relação à possibilidade de reconstrução da mama. “A paciente já saí da cirurgia com a mama reconstruída”, destaca. E no que diz respeito à quimioterapia, que também evoluiu, assim como os medicamentos para os tipos de tratamento. “Até a própria radioterapia também progrediu, a gente tem tratamentos radioterápicos mais curtos, com doses menores, que não causam tantas lesões, como queimaduras e outras sequelas que a paciente poderia ter”, comenta.
Incidência em homens
Vale ressaltar que, embora com incidência de apenas 1% dos casos, o câncer de mama também pode afetar homens. Por isso, é importante que eles não deixem de fazer check-ups periódicos. Os sinais e sintomas são basicamente os mesmos. A diferença é que, como eles praticamente não possuem glândulas mamárias, a detecção se torna um pouco mais fácil.
Sobre o Outubro Rosa
“A gente precisa se conscientizar que, na verdade, a mamografia é a nossa melhor amiga, é a verdadeira amiga do peito. É um exame rápido e que só é feito uma vez por ano”, frisa a mastologista Milena Viana de Holanda
As primeiras iniciativas para conscientizar a sociedade sobre a prevenção do câncer de mama tiveram início nos Estados Unidos. Em 1990, a Fundação Susan G. Komen for the Cure distribuiu laços cor-de-rosa (símbolo da campanha desde então) durante a primeira Corrida pela Cura, em Nova York. A data tem como objetivo compartilhar informações sobre a doença e promover a conscientização para o diagnóstico precoce e tratamento, contribuindo para a redução da mortalidade. No Brasil, a Lei nº 13.733/2018 dispõe sobre as atividades do Outubro Rosa. Para dar visibilidade à campanha, prédios públicos e monumentos ganham iluminação rosa nesse período, reforçando a importância do tema para a população.
Apesar de toda a mobilização, a mastologista Milena Holanda observa que ainda há muitas mulheres que relutam para realizar a mamografia, pois reclamam que é doloroso. “A gente precisa se conscientizar que, na verdade, a mamografia é a nossa melhor amiga, é a verdadeira amiga do peito. É um exame rápido e que só é feito uma vez por ano. Nunca conheci nenhuma mulher que tenha morrido por ter realizado uma mamografia, mas conheço várias que infelizmente perderam a vida por não terem realizado”, alerta.