Dia Internacional da Mulher

Oficialas do Juizado da Mulher relatam os desafios enfrentados no dia a dia da profissão

Para marcar a data, o Sindojus Ceará promoverá palestra abordando as temáticas: a mulher como Oficiala de Justiça, assédio e condutas abusivas no ambiente de trabalho

06/03/2020
Ilustrações: Milton Figueiredo/Sindojus Ceará

Comemorado desde o início do século 20, o Dia Internacional da Mulher foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975. A data é marcada em todo o mundo como um dia de protestos na busca por igualdade de gênero. Neste ano, para marcar o 8 de março, o Sindicato dos Oficiais de Justiça do Ceará (Sindojus-CE) promoverá a palestra “A mulher como Oficiala de Justiça e atos de violência: reflexões sobre o assédio e outras condutas abusivas na atuação profissional”, que será ministrada, em data a ser confirmada, pela oficiala Ana Karmen Fontelene, da comarca de Chorozinho. Para saber os principais desafios enfrentados no dia a dia da profissão, neste ano a entidade ouviu oficialas que atuam no Juizado da Mulher.

Respeito

Kellen Diniz afirma que nessas diligências relacionadas à Lei Maria da Penha, sobretudo, nos afastamentos do lar, a maior dificuldade é com relação aos agressores. “Às vezes, eles não querem acatar a ordem por eu ser mulher, eles enxergam que sou pelo lado delas, pelo fato de ser mulher, e fica um pouco mais complicado”, destaca. Para transpor essa barreira, ela foca na forma de abordagem, que é bem humanizada. “Eu procuro ao máximo respeitar aquela situação, porque tem muita coisa envolvida, a família, a história que existiu entre eles, e faço uma abordagem a mais humana possível, então eles começam não querendo me respeitar, mas no decorrer da abordagem a gente vai se entendendo”, disse.

“Nós temos muitas conquistas e cada vez mais a mulher vem se firmando e adquirindo respeito”, ressalta a oficiala Kellen Diniz

Outra dificuldade que cita é área de cobertura, que é muito extensa – são 12 oficiais e oficialas para cobrir toda a cidade de Fortaleza, e a criminalidade em si, que em algumas regiões é mais crítica.

Com relação aos colegas, a oficiala disse que nunca sentiu nenhum tipo de constrangimento pelo fato de ser mulher, o que atribui à sua postura. “Antes de entrar no Juizado da Mulher, os meus colegas de rota brincavam dizendo que eu sou oficiala raiz, porque eu não tenho problema nenhum de mandado, não escolho mandado, foi essa a maneira que me coloquei diante dos colegas e vem dando certo”, comenta. Neste Dia Internacional da Mulher, Kellen acredita que as mulheres têm o que comemorar sim. “Nós temos muitas conquistas e cada vez mais a mulher vem se firmando e adquirindo respeito”, observa.

Conscientização

No labor, seja em relação aos colegas ou jurisdicionados, a oficiala Geanna Alves conta que nunca se sentiu intimidada ou desrespeitada pelo fato de ser mulher. A insegurança, acrescenta, é principalmente em razão da violência que toma conta da cidade. Por esse motivo, sempre que a diligência é em regiões mais perigosas, procura ir acompanhada de algum colega.

Depois de dois anos trabalhando no Juizado da Mulher, a oficiala destaca que a violência doméstica em si é o que mais a atinge. “Eu não achava que seria tão recorrente, tão intenso. Eu não tinha ideia da quantidade de processos de agressões contra mulheres e isso mexe comigo enquanto mulher. Estamos do outro lado, mas a gente acaba se envolvendo, porque chega a vivenciar um pouco daquela situação conflitante de violência, vê os filhos chorando, a família querendo contar o seu lado. É complicado”, observa.

União

Para Geanna, o 8 de março é uma dia, sobretudo, de luta. “É uma data que ao longo do tempo foi mudando o sentido, mas o significado real dela é a luta por direitos, então, em vez de comemorar, a gente tem que buscar essa conscientização, avaliar as nossas necessidades e fortalecer o espírito de união, pois quanto mais unidas as mulheres estiverem, mais conquistas elas vão alcançar”, frisa.

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