Dia do Oficial de Justiça

“Nenhuma diligência é igual à outra. Cada mandado é uma história diferente”, diz Joelma Cavalcante

Há dois anos trabalhando no Tancredo Neves, ela foi além do papel de oficiala e se envolveu com organização sem fins lucrativos para ajudar a comunidade

25/03/2019
Fotos: Arquivo pessoal

Ser Oficial de Justiça não é tarefa fácil. É preciso ter vocação, gostar de estar em contato com as pessoas. É ser um pouco psicólogo, assistente social, advogado. É saber ouvir. Para ser Oficial de Justiça é preciso, ainda, estar disposto a utilizar o seu próprio veículo para cumprir os mandados. Deslocar-se a lugares de difícil acesso. É trabalhar de forma desprotegida e vulnerável. Ser considerado mensageiro de notícias ruins. Para ser Oficial de Justiça é preciso, antes de tudo: ter coragem.

Na visão de Joelma Cavalcante, oficiala há 22 anos em Fortaleza, exercer a profissão é tratar com dois mundos completamente diferentes todos os dias. “É como se o Fórum fosse o conto de fadas e o cumprimento dos mandados a vida real, é esse ir e vir o tempo todo. Realizar um despejo é bem diferente de autorizar um despejo, por exemplo. Sou oficiala desde 1996, e ainda me surpreendendo a cada dia. Nenhuma diligência é igual à outra. Cada mandado é uma história diferente”, comentou.

No último dia 16, ao chegar à sua rota no bairro Tancredo Neves, ela não conseguiu conter a emoção ao ver o desespero de uma mulher que perdera tudo por causa das fortes chuvas. “Eu chorei. A água invadiu a casa e a família perdeu tudo. O conjunto foi construído no leito do Rio Cocó e a água não entra, ela mina de dentro das casas. Todas as vezes que chove é o mesmo desespero. É triste ver isso. Então ser oficiala é isso: é não ver saneamento básico, é ver criança correndo na rua ao lado de esgotos à céu aberto, é ver pessoas dizerem que não conseguiram ser atendidas no posto de saúde”, contou.

Na visão de Joelma, exercer a profissão é tratar com dois mundos completamente diferentes todos os dias. “É como se o Fórum fosse o conto de fadas e o cumprimento dos mandados a vida real, é esse ir e vir o tempo todo”, disse.

Empatia

Na hora que recebe um mandado, Joelma diz que não lê “cite o réu Pedro”. E sim “Cite o Pedro”. “Eu vou procurar o Pedro. Eu não quero saber se o Pedro responde por homicídio, se é traficante, para mim ele é só o Pedro, então quando eu passo a tratar o ser humano como ser humano é a empatia, você começar a se colocar no lugar do outro. O Oficial de Justiça tem que fazer isso pra ser aceito dentro da comunidade, porque ali nós não temos aparato nenhum para nos proteger. Nós não temos um balcão de secretaria, um policial do nosso lado, são apenas eu e um mandado judicial na mão”, disse.

O seu trabalho, porém, foi além do papel de Oficial de Justiça. Há dois anos, envolvera-se com os trabalhos do Instituto de Assistência e Proteção Social (IAPS) – organização da sociedade civil sem fins lucrativos criada em abril de 2001 –, e no Natal recolhe roupas usadas, lençóis e materiais de higiene pessoal para doar à instituição, que atende o Abrigo Nossa Casa, Nova Vida, Tia Júlia, Casa Abrigo e Casa da Criança, localizadas, em sua maioria, no conjunto Tancredo Neves e adjacências.

Importância

Por meio da história de Joelma, a diretoria do Sindicato dos Oficiais de Justiça do Ceará (Sindojus-CE) presta homenagem aos oficiais e oficialas de todo o país.

O Oficial de Justiça é peça fundamental à prestação jurisdicional e uma função essencial à justiça. De nada adiantariam as decisões judiciais se não existisse quem as fizesse cumprir. A diretoria do Sindojus Ceará deseja os mais sinceros parabéns!

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