“A justiça não pode parar”, pela Oficiala de Justiça Fabyola Sássia
Confira o texto escrito pela servidora lotada na comarca do Crato, região do Cariri. “O trabalho agora triplicou, entretanto, continuamos a trabalhar, porque a justiça não pode parar…”, diz trecho
Em 15 anos, o número de processos aumentou, porém o número de Oficiais de Justiça continua o mesmo… O trabalho duplicou, mas continuamos a trabalhar, porque a justiça não pode parar…
Veio a pandemia da Covid-19. Depois de muitas solicitações, o Tribunal de Justiça nos forneceu EPI´s: 5 máscaras e 1 litro de álcool gel por oficial. Pensávamos nós que seria mensal. Não foi. Passamos a comprar o nosso próprio EPI e continuamos a trabalhar, porque a justiça não pode parar…
Os fóruns fecharam e nós tivemos que imprimir os mandados em casa. Mais papel, mais tinta de impressão e mais tempo gasto, no entanto continuamos a trabalhar, porque a justiça não pode parar…
Juízes, promotores, defensores e servidores em teletrabalho. Nós seguimos nas ruas, pois somos o único elo real que liga a população desamparada e carente de recursos tecnológicos ao tribunal virtual, então continuamos a trabalhar, porque a justiça não pode parar….
A produtividade aumentou e a demanda tornou ainda mais evidente a carência de Oficiais de Justiça. O trabalho agora triplicou, entretanto, continuamos a trabalhar, porque a justiça não pode parar…
O quadro pandêmico piorou. Perdemos um dos nossos. Depois mais um… Choramos, enxugamos as lágrimas e continuamos a trabalhar, porque a justiça não pode parar….
Finalmente as vacinas chegaram e, apesar de vários apelos e requerimentos, não fomos enquadrados em nenhum dos grupos prioritários, embora estejamos na linha de frente do judiciário. Continuamos a trabalhar, porque a justiça não pode parar….
Agora mais um de nós se foi vítima da doença. Trabalhava sozinho em uma comarca com 2.252 km². Impossível cumprir todos os mandados. Muitas vezes, chegava em casa à noite na tentativa vã de dar-lhes vencimento. E agora, mesmo depois de sua morte, os ofícios de cobrança continuam chegando, como se nada mais importasse.
A produtividade não pode continuar a ceifar a vida e a saúde dos Oficiais de Justiça. Queremos trabalhar, mas precisamos de justiça! Aonde isso vai dar? Porque a justiça não pode parar…
*Por Fabyola Sássia Rodrigues, Oficiala de Justiça da comarca do Crato