Oncologista destaca a importância do diagnóstico precoce do câncer
Neste mês, a campanha será dividida em duas partes. A entrevista de hoje será com a oncologista clínica Georgia Fiuza e, na próxima semana, com o hematologista e Oficial de Justiça, Osanildo Nascimento
Em fevereiro, a Campanha “Sindojus Saúde – Prevenção e Cuidados” aborda a prevenção ao câncer e o combate à leucemia. A escolha do tema faz referência ao Dia Mundial do Câncer, celebrado no dia 4 deste mês, e ao Fevereiro Laranja, que alerta para a necessidade de falar sobre a leucemia e de incentivar a doação de medula óssea. Devido à relevância da temática, a edição desse mês será dividida em duas partes.
Nesse primeiro momento, a oncologista clínica Georgia Fiuza conversa sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer, os principais fatores de risco, as chances de cura da doença, entre outros assuntos. Em continuidade à edição do mês de fevereiro, na próxima semana, o hematologista e Oficial de Justiça, lotado na Central de Cumprimento de Mandados Judiciais (Ceman) de Fortaleza, Osanildo Nascimento, explicará sobre os tipos de leucemia e os mitos e as verdades sobre a doação de medula óssea.
Tipos mais comuns da doença
Estima-se que, em 2021, sejam diagnosticados 625 mil novos casos de câncer no país. Segundo o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (INCA), com exceção do câncer de pele não melanoma, em homens, o tipo mais comum é o câncer de próstata – com 29,2% dos casos – e, em mulheres, o câncer de mama é o de maior incidência, com 29,7% dos diagnósticos.
A oncologista Georgia Fiuza chama atenção para o câncer de pele por causa da constante exposição ao sol do Oficial de Justiça na rotina de trabalho. Ela recomenda que a “exposição solar de 10h as 16h deveria ser evitada. Se não for possível, usar protetor solar e boné porque o sol é um fator conhecido para o câncer de pele”.
Fatores de risco
O câncer é uma doença multifatorial e não deve ser analisado isoladamente. Segundo Georgia, o principal fator de risco é o envelhecimento somado às causas externas. Dentre as ações que o indivíduo pode fazer para minimizar os riscos da doença, a oncologista destaca a prática de atividades físicas, uma boa alimentação, além de não fumar e diminuir o consumo de álcool. “Essas atitudes reunidas reduzem em até 30% o risco de câncer”, frisa.
Segundo ela, não há evidências científicas que demonstrem que o estresse, sozinho, seja um fator de risco direto. “O que a gente vê na nossa prática clínica é que, às vezes, o câncer pode estar relacionado a grandes traumas. Pacientes que estão em alto nível de estresse podem ter uma queda da sua imunidade e o sistema imunológico é o vigilante do câncer”, comenta.
Imunidade
“Não existe um remédio ou chá para a imunidade”, diz. De acordo com a oncologista, é fácil encontrar na internet propagandas de fórmulas mágicas para melhorar o sistema imunológico, porém, ela fala que esses medicamentos não têm nenhuma eficácia. A médica reforça que “a sua imunidade vai estar ok, se você tiver hábitos saudáveis. Não tem milagre. É se cuidar. Cuidar da sua saúde”.
Exames e diagnóstico precoce
A maioria dos tumores não possui uma prevenção secundária, ou seja, não é possível detectar e tratar a doença em um estágio pré-maligno, como acontece no câncer de colo do útero, em que é possível evitá-lo com a retirada da lesão na região. Com exceção desses casos menos frequentes que podem ser prevenidos, o mais comum da doença é o diagnóstico precoce, como ocorre com o câncer de mama e de próstata.
“Nos tumores de mama, a gente consegue diagnosticar lesões bem iniciais, com chances de cura de mais de 90% dos casos, através do principal exame que é a mamografia”, evidencia. Conforme a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), esse exame deve ser feito periodicamente a partir dos 40 anos, podendo a idade ser antecipada em mulheres que já possuem histórico da doença na família.
Para ter o diagnóstico precoce do tumor na próstata, homens a partir de 50 anos devem fazer, de forma combinada, os exames de toque retal e de sangue, chamado de Antígeno Prostático Específico (PSA). “O médico urologista vai avaliar a próstata, se tem uma consistência alterada, se tem algum nódulo, se vai precisar pedir algum exame específico – ultrassom ou tomografia – para saber se tem o risco de câncer. Se ele achar que esse risco é grande, ou seja, um PSA aumentado e uma próstata alterada, ele vai pedir uma biópsia”, comenta.
Georgia esclarece ainda que, além da realização de testes e idas ao médico regularmente, é importante que o paciente seja acompanhado por um especialista voltado para a prevenção do câncer. “As pessoas acham que o oncologista é só para quando estão com o diagnóstico. Não! A gente tem que enfatizar que a prevenção oncológica é muito importante. Você vai analisar todo o histórico do paciente – pessoal e familiar – e os hábitos que podem estar gerando um risco maior”, explica.
Sintomas
“Se a gente for esperar sintomas no câncer, a gente vai descobrir 90% dos tumores em uma fase muito avançada”, adverte a médica. Por isso, ela ressalta a importância de fazer exames de rotina para detectar a presença da doença em estágio inicial. “De forma geral, o paciente deve ficar atento aos sintomas, como fraqueza, emagrecimento e anemia sem causas aparentes. Esses sintomas são sinais de alarme. Cada tumor pode ter um sintoma específico”
Tratamentos
Os pilares do tratamento do câncer são a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. Há outras opções, como o uso de medicamentos mais modernos, como a quimioterapia oral e as terapias-alvo (direcionadas para uma mutação específica no tumor). Além disso, mais recentemente, foi desenvolvida a imunoterapia, que é uma medicação venosa que faz com que o próprio sistema do paciente fique ativado para combater o tumor. “Cada vez mais, a gente tem a junção dos tratamentos. É multimodal”, salienta Fiuza.
Cuidados com a saúde mental
A oncologista menciona que a depressão é comum em pacientes com diagnóstico de câncer. Por isso, ela aponta a necessidade de uma rede de apoio de amigos e familiares, além dos cuidados com a saúde mental, por meio do acompanhamento psicológico. “É uma doença que tem um tabu muito grande. Acha que está com câncer e é um diagnóstico de morte. Existe muito medo da doença, mas sem um esclarecimento. Tem que tirar o mito que é um bicho de sete cabeças. É uma doença grave, mas que tem inúmeros tratamentos e que tem grandes chances de cura”, afirma.
Contato
Geórgia Fiúza é oncologista clínica e faz parte da equipe da clínica Pronutrir, em Fortaleza. O telefone para contato é (85) 3262-0183.
Confira a entrevista completa com a oncologista Georgia Fiúza: