Infectologista fala sobre os cuidados para se prevenir contra a Covid-19
Neste mês de janeiro, será iniciada a Campanha Sindojus Saúde. O tema escolhido para a primeira edição são as formas de prevenção à Covid-19, com as orientações do médico infectologista Anastácio de Queiroz
O Sindicato dos Oficiais de Justiça do Ceará (Sindojus-CE) inicia, neste mês de janeiro, a Campanha “Sindojus Saúde – Prevenção e Cuidados”, que abordará assuntos relacionados ao bem-estar do Oficial de Justiça. Ao longo deste ano, uma vez por mês, médicos de diversas especialidades – como ginecologistas, dermatologistas, cardiologistas, oncologistas e geriatras -, além de outros profissionais, serão entrevistados para tratar de temas envolvendo uma área específica da saúde.
Nesta primeira edição, a temática escolhida são as formas de prevenção à Covid-19. Desde o início do surto do novo coronavírus, mais de 50 Oficiais de Justiça cearenses já contraíram a doença, vitimando dois deles. A categoria, que atua na linha de frente do Poder Judiciário, cumpre mandados judiciais em diferentes regiões das cidades, tendo que lidar com pessoas sem máscara de proteção e, muitas vezes, doentes e em aglomeração, além de diligenciar em locais de alto risco de contaminação como hospitais, presídios e delegacias.
“É uma doença que se transmite de pessoa para pessoa, através das secreções respiratórias – da fala, do espirro e da tosse – e das mãos contaminadas. Se você imaginar como é o mecanismo que você se contamina e se descontamina, você estará protegendo os outros e a você”, explica o médico infectologista Anastácio de Queiroz, entrevistado na primeira edição da Campanha Sindojus Saúde.
Cuidados
Anastácio de Queiroz destaca que o Oficial de Justiça deve manter a rotina de cuidados preventivos durante o cumprimento dos mandados judiciais, como o uso de máscara – de preferência, a N95 ou a de tecido com duas camadas de proteção – e a higienização constante das mãos. “Muitas vezes, manter esse cuidado continuadamente, 24 horas, é muito difícil, especialmente, se você trabalha de manhã e de tarde. O uso da máscara, o tempo todo, incomoda. Então, em algum momento, você puxa a máscara, coça o nariz e não higienizou as mãos. O oficial precisa fazer disso a sua rotina, o que não é fácil se você não tem esse hábito desenvolvido. Parece algo simples, mas não é”, aponta o médico.
Ele comenta ainda que, durante as diligências em lugares aglomerados ou de alto risco de contaminação, o oficial deve “higienizar as mãos antes e depois que fizer o procedimento porque garante que, se ele tocou em alguma superfície, descontaminou as mãos. O problema é que, às vezes, você está no meio de um procedimento, a máscara desce e você pega. São cuidados que nem percebe. O ideal é que, a partir do momento que comece a usar máscara, você faça uma reflexão e crie uma rotina de maneiras de agir. Se assim fizer, isso dará uma proteção, realmente”.
Uma sugestão dada pelo médico é deixar um frasco com álcool em gel em lugar de fácil acesso, como preso a um suporte da roupa ou da bolsa, e não compartilhar objetos de trabalho com outras pessoas.
Diagnóstico precoce
O infectologista esclarece que o paciente deve agir antes dos sinais de alerta. Sintomas, como ardor na garganta e nos olhos, nariz obstruído, dor de ouvido, falta de disposição e febrícula, devem ser observados. “Hoje, tudo o que estiver ligado ao sistema respiratório tem que suspeitar como novo coronavírus. Às vezes, é tão leve, mas que, quando o indivíduo não cuida – principalmente depois do sétimo dia -, já está com dificuldade de respirar e com o pulmão todo comprometido. Essa não é uma doença que começa de uma vez. Às vezes, é tudo sutil e a pessoa acha que não tem nada”, adverte.
No caso de começar a sentir os sintomas, o Oficial de Justiça deve ir para uma unidade de saúde e pedir orientação ao médico. “É importante fazer as perguntas: doutor, isso pode ser coronavírus? Por que não é? O que eu devo fazer? Você precisa fazer as perguntas para sair seguro”, recomenda.
Prevenção e tratamento
Conforme Anastácio de Queiroz, há tratamento específico para cada etapa da doença e a vitamina D é um importante elemento de suplementação, que auxilia a imunização e a proteção do sistema respiratório. Além disso, ele fala que melhorar a alimentação, fazer uma atividade física, não ter excesso de peso e controlar bem a diabetes e a hipertensão proporcionam qualidade de vida e contribuem para o resultado positivo do tratamento. “São atitudes que favorecem muito a evolução benigna em todo tipo de doença”, declara.
Quarentena
O entrevistado informa que há dois tipos de grupos de pacientes: o primeiro que vai apresentar sintomas mais leves e evoluir bem e o segundo que vai sentir os sintomas mais fortes e precisará ser internado. Segundo estudos citados pelo infectologista, no primeiro grupo – formado por aqueles que não serão hospitalizados -, o paciente não é mais contaminante após o décimo dia do primeiro sintoma, principalmente, se ele já estiver com mais de 48 horas assintomático. Por isso que se estabelece o período de isolamento de até 14 dias para evitar a contaminação. Em todo caso, é importante seguir a recomendação dada pelo médico que está acompanhando a pessoa com a doença.
Reinfecção
De acordo com o médico, há a possibilidade de pacientes se infectarem mais de uma vez com o novo coronavírus. “Infelizmente, a reinfecção acontece. Não há dúvida. Eu tenho acompanhado pessoas que já tinham anticorpos e, ao longo de seis meses, perderam esses anticorpos e apresentaram sintomas de novo”. Ainda não há consenso entre os especialistas sobre o período de imunidade do paciente após contrair a doença pela primeira vez. “A maioria começa a perder depois dos seis meses; alguns demoram um pouco mais. Não é uma imunidade duradoura”, expõe.
Vacinação
Atualmente, há duas vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso emergencial no Brasil: a Coronavac e a vacina de Oxford contra a Covid-19. Os dois imunizantes estão sendo aplicados, inicialmente, em profissionais da saúde, indígenas e maiores de 75 anos, seguindo o Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19, do Ministério da Saúde. A campanha de vacinação no Ceará teve início no último dia 18. “A vacina é importante e todos aqueles que tiverem a oportunidade devem tomá-la”, diz o infectologista.
Projeções para o fim da pandemia
Mesmo com o início da vacinação no Brasil, Anastácio de Queiroz pondera que o caminho até chegar ao fim da pandemia do novo coronavírus é longo. “Ainda são muitos meses que nós vamos usar máscara, na melhor das hipóteses, porque têm a vacina e as pessoas que se infectam vão ficando protegidas”, enfatiza. Sobre a atual situação da doença no Ceará, ele afirma que “a partir do momento em que há pessoas adoecendo e morrendo, a situação é grave. É um momento muito difícil e eu espero, realmente, que nós possamos ultrapassá-lo com menos sofrimento e menos óbitos”.
Campanha Sindojus Saúde
Essa iniciativa tem como objetivo prestar um serviço de informação sobre temas que envolvam a saúde e o bem-estar do Oficial de Justiça, tirando dúvidas e fornecendo dicas claras e objetivas. O foco da campanha é conscientizar a categoria sobre a prevenção de doenças, contribuindo para salvar vidas.
A próxima edição, que será publicada em fevereiro, abordará as medidas preventivas ao câncer. A escolha da temática é uma alusão ao Dia Mundial do Câncer, comemorado no dia 4 de fevereiro, e à Campanha “Fevereiro Laranja”, que conscientiza a população sobre a leucemia e a importância de se tornar um doador de medula óssea. Para essa reportagem, serão entrevistados médicos com especialidades em Oncologia e Hematologia. Os interessados podem enviar, através do e-mail comunicacao@sindojus-ce.org.br, perguntas sobre o tema para serem respondidas pelos profissionais.
Confira a entrevista na íntegra com o médico infectologista Anastácio de Queiroz: