Sindojus Saúde

Hematologista fala sobre a leucemia e incentiva a doação de medula óssea

Osanildo Nascimento, médico e Oficial de Justiça há 23 anos, traz orientações a respeito da doença e alerta sobre a importância da doação de medula óssea

24/02/2021

Ainda que sejam dois pilares do enfrentamento a doenças, a prevenção e o autocuidado estão longe de serem os únicos aliados da saúde. No mês em que é promovida a campanha Fevereiro Laranja, a qual fomenta o debate sobre a leucemia e a doação de medula óssea, também é incentivada outra iniciativa responsável por estimular o bem-estar e salvar vidas – a solidariedade.

Nesta segunda parte da edição de fevereiro da campanha “Sindojus Saúde – Prevenção e Cuidados”, o hematologista e Oficial de Justiça há 23 anos no Ceará, Osanildo Nascimento, traz orientações a respeito das possíveis causas, diagnóstico e tratamento da leucemia e alerta sobre a importância da doação de medula óssea e como ela pode ser feita. “É um gesto humano, de amor, de solidariedade”, frisa o médico.

A doença

A leucemia é uma neoplasia maligna hematológica ou, de forma mais simples, é o “câncer de sangue”, que afeta a medula óssea – um tecido presente no interior dos ossos responsável por produzir as células-tronco ou progenitoras, que dão origem as células sanguíneas: leucócitos (glóbulos brancos), hemácias (glóbulos vermelhos) e plaquetas. A medula óssea é a matriz do sangue e se localiza na parte interna dos ossos, semelhante ao tutano dos ossos do boi.

Esse tipo de câncer surge a partir de mutações genéticas das células-tronco, quando são desenvolvidas as células malignas – chamadas de blasto – e estas preenchem a medula óssea. “Se você fizer um hemograma e encontrar blastos, isso não é bom. É um sinal de uma doença leucêmica”. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2020, foram diagnosticados cerca de 11 mil casos de leucemia no Brasil, sendo 6 mil casos entre homens e 5 mil entre mulheres.

Tipos

As células-tronco seguem duas linhagens: a linfoide, que produz os linfócitos, e a mieloide, que dá origem a todas as outras células do sangue. A partir dessa divisão, a leucemia pode ser classificada em: linfoides e mieloides. Quanto ao período de manifestação da doença, esses dois tipos podem ser subdivididos em duas formas: a aguda, quando os sintomas surgem num intervalo curto de tempo, ou a crônica, quando costuma ser descoberta durante exames de rotina.

Sintomas

Os sintomas variam conforme as células mais afetadas pela doença. Quando há redução dos glóbulos vermelhos, podem acontecer sintomas como fadiga, sonolência, falta de ar e palpitação. Quando os glóbulos brancos são afetados, há queda da imunidade, ficando o organismo mais sujeito a infecções oportunistas. Já com a redução das plaquetas, pode haver sangramentos em áreas como a gengiva e o nariz, além do surgimento de manchas ou pontos roxos na pele.

Diagnóstico

“Quanto mais precoce o diagnóstico, mais há chances de uma boa resposta ao tratamento”, ressalta Osanildo. A identificação da doença é feita a partir de exames de sangue. O médico chama atenção para a importância de exames periódicos, como o hemograma, que podem indicar a leucemia ainda em um estágio precoce. “Um simples hemograma bem feito, em um bom laboratório, já pode fechar esse diagnóstico. Depois, o trabalho vai ser de classificar o subtipo da doença, com outros exames”.

Tratamento

O tratamento é complexo e varia muito de acordo com o quadro de cada pessoa. “Cada caso é visto de forma individualizada. Mas, em geral, o tratamento é quimioterápico, feito com um estudo sobre as condições clínicas do paciente. E nos casos que são elegíveis, é buscado o transplante de medula óssea, que, por enquanto, é o único que a gente pode esperar a cura”, ratifica.

Cadastro para ser um doador de medula óssea

O interessado deve realizar o cadastro no hemocentro mais próximo. No Ceará, o registro é feito nos postos de coleta do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce). Para se cadastrar, é preciso ser saudável, ter entre 18 e 55 anos de idade, não possuir histórico pessoal de câncer e apresentar um documento de identificação oficial com foto.

Além dos dados pessoais, durante o cadastro, é coletada uma pequena amostra de sangue do doador. Essas informações ficam guardadas no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), ligado aos registros internacionais de doação. A maior possibilidade de haver um doador compatível é entre os irmãos. Caso não seja encontrado entre os familiares, procura-se um doador inscrito no Redome. Em caso de compatibilidade entre o habilitado e o paciente que aguarda por um transplante de medula, o voluntário será informado para decidir se vai ou não fazer a doação e será convidado a realizar testes clínicos mais detalhados.

“É importante manter esse cadastro atualizado, porque, às vezes, demora achar um compatível. Aliás, é muito difícil encontrar, daí a importância de doar. Quanto mais doadores cadastrados no Redome, maior a chance de achar um compatível”, explica Osanildo. Ele lembra ainda que os bancos de dados para a doação de sangue e para a doação de medula óssea são diferentes. O interessado em ser um doador voluntário deve entrar em contato com o Núcleo de Medula do Hemoce. Segundo dados da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), em 2019, o Estado realizou 132 transplantes de medula óssea.

Como é feita a doação em caso de compatibilidade

O procedimento é feito em um centro cirúrgico do hospital. Após a aplicação de anestesia, que pode ser geral ou peridural (localizada na região lombar), são feitas punções na região da bacia (crista ilíaca) do doador, através da qual é coletada parte do conteúdo da medula óssea. Osanildo esclarece que “é como se retirasse uma bolsa de sangue, só que não é sangue periférico, mas progenitor, que ainda está sendo formado, rico em célula-tronco saudável – que é o que o paciente está precisando porque a dele é maligna”.

O doador fica internado por cerca de 24 horas, recebendo alta em seguida e retomando as atividades normalmente em poucos dias. Em até 15 dias, o voluntário recupera toda a medula que foi transplantada.

Verdades sobre a doação de medula óssea

  • O procedimento é inteiramente seguro, sem riscos para o doador. Os efeitos para o voluntário, quando ocorrem, são mínimos e passageiros, como dor local, sensação de cansaço e dor de cabeça.
  • O transplante não consiste em um procedimento cirúrgico complexo, sendo mais semelhante a uma transfusão de sangue.
  • Não confundir medula óssea com medula espinhal, que faz parte do sistema nervoso central e se localiza no canal vertebral. “A medula óssea é aquele famoso ‘tutano’, que a gente chama nas comidas regionais, por exemplo. Aquilo ali é a medula óssea que nós temos também”, exemplifica o hematologista.

O transplante da medula óssea para o paciente

Esse procedimento possui mais chances de risco porque está diante de uma pessoa com a saúde debilitada. Nesse caso, quem vai receber a nova medula precisa ficar internado por um período mais longo. Antes da doação, é feito um tratamento quimioterápico para eliminar a medula óssea que está comprometida. Passado esse processo de preparação, ele recebe o material coletado do doador por uma mera transfusão de sangue. O médico afirma que “a medula óssea é transfundida para ele, cai na circulação periférica e, de forma genial – coisa que só Deus pode criar -, vai se instalar dentro do osso. Então, ela vai começar a produzir sangue até normalizar os índices do paciente”.

Durante todo o processo, o transplantado é monitorado para que o seu estado de saúde seja acompanhado de perto pela equipe especializada. “Não é um procedimento tão simples, mas é a esperança que o paciente tem de ter uma medula óssea e de poder chegar à cura da leucemia”, enfatiza.

Segundo o hematologista, a vida no pós-transplante é de “extremo cuidado e de extrema vigilância por um bom período”. No primeiro ano de tratamento, a atenção para prevenir doenças é intensa. Nesse momento, o grande problema é contrair alguma infecção. Dessa forma, é preciso estar em constante observação quanto aos sinais e sintomas fora do normal, como alterações na pele, febre, calafrio, incômodos intestinais ou na urina, tosse, falta de ar e dores intensas. Nesses casos, deve-se entrar em contato, imediatamente, com o médico-assistente.

Prevenção e fatores de risco

Conforme Osanildo, a experiência mostra que existem casos da doença que poderiam ser prevenidos, mas sabe-se que, no geral, não há causas para boa parte dos diagnósticos. O médico cita fatores que podem favorecer ao desenvolvimento da leucemia, por exemplo, o contato prolongado com radiação e com substâncias químicas e tóxicas, além do tabagismo. Ele aponta ainda a questão genética, algumas doenças anteriores e o envelhecimento.

Como lidar com a leucemia da melhor forma

O médico ensina que a doença é muito complexa e possui vários fatores envolvidos. Nesse sentido, ele salienta que o indivíduo não é uma coisa só e deve ser analisado a partir de quatro dimensões: a física (que é a doença em si), a social (diz respeito à importância de o paciente receber o apoio de amigos e familiares no decorrer do tratamento), a psicológica (que é manter a mente saudável e buscar formas de enfrentar e vencer a doença) e a espiritual.

Dentre as dimensões abordadas, o hematologista avalia a espiritual como a principal. “Confiar, ter fé em Deus, nesse ser superior que a tudo controla, que sabe de todas as nossas necessidades e que guia os médicos e todas as pessoas. Voltar-se para Deus, fazer orações, frequentar a sua igreja, independente da sua religião”, declara.

Núcleo de Medula do Hemoce

Mais informações no site do Hemoce ou no Núcleo de Medula do Hemoce, através do número (85) 3101.2288 ou do e-mail nucleo.medula@hemoce.ce.gov.br.

Confira a entrevista completa com o hematologista e Oficial de Justiça Osanildo Nascimento:

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