Setembro Amarelo

Sindojus disponibiliza vídeo da palestra ministrada pelo psiquiatra e professor Fábio Gomes de Matos

Verba destinada à saúde mental, os riscos de ter uma arma de fogo e a importância de ouvir quem está com ideação suicida foram temas abordados pelo especialista

30/09/2024
Foto: Reprodução

Como parte da programação do Setembro Amarelo, o Sindicato dos Oficiais de Justiça do Ceará (Sindojus-CE) e a Comissão Corrente da Vida promoveram, no dia 12 de setembro, a palestra “Sua saúde mental importa. O primeiro passo é buscar ajuda”, ministrada em formato virtual pelo psiquiatra Fábio Gomes de Matos, coordenador do Programa de Apoio à Vida (Pravida) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Na abertura, o presidente do Sindojus, Vagner Venâncio, falou sobre as dificuldades que a categoria enfrenta no cotidiano da profissão, exercida de forma solitária, e das cobranças que a categoria costuma receber diariamente, as quais partem do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sendo replicadas pelos Tribunais de Justiça, magistrados e servidores. “Esse é o conjunto da obra que requer um equilíbrio emocional muito grande no exercício do nosso mister”, explicou.

Pravida completa 20 anos

O professor se colocou à disposição para firmar parcerias com o objetivo de evitar qualquer tipo de tragédia que venha a acontecer com os Oficiais de Justiça. “Colocamos o Pravida à disposição para qualquer servidor que sinta a necessidade de ajuda nesse sentido. Estamos disponíveis para ajudar”, reiterou. Ele expressou a sua alegria e satisfação de, pela primeira vez, conversar sobre um tema tão relevante com a categoria. O especialista, que é também presidente da Associação de Psiquiatria do Ceará (APEC-CE), contou a história do Pravida, que teve início em 2004 e, nesses 20 anos de existência, já atendeu mais de 2 mil pessoas.

Neste ano, o professor contou que observaram um aumento considerável de suicídios na faixa etária de 11 a 19 anos e que o Pravida atendia adultos, então resolveram conversar com a direção do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), que foi sensível à demanda, e hoje o projeto atende adultos, em termos de prevenção do suicídio, e, nas sextas-feiras, crianças e adolescentes, por meio do Pravidinha, como é chamado, o qual fora criado neste ano de 2024.

Ele explicou ainda que os atendimentos feitos pelo programa têm duração de três meses. Isso porque nos três meses depois da tentativa, esclareceu o professor, a taxa de suicídios aumenta 100 vezes. “A tentativa de suicídio é algo muito grave, que merece a atenção de todos nós. Esse aspecto é fundamenta para a gente entender que nós precisamos ouvir as pessoas que naquele momento específico estão pensando em suicídio”, frisou.

Problema de saúde pública

Mencionando o caso do cantor Bom Jovi, que no dia 10 de setembro ajudou a salvar uma mulher que estava prestes a saltar de uma ponte nos Estados Unidos, caso que ganhou repercussão na mídia, o professor, que há 20 anos se dedica ao tema, defendeu que essa é uma medida que precisa ser tomada em Fortaleza: colocar telas nas pontes e viadutos da cidade. “Tem que ter proteção para a vida”, afirmou.

Ele destacou que o suicídio é um problema de saúde pública, que cada morte é uma tragédia individual e que é possível, sim, ver quem está em risco, que tentou tirar a própria vida para buscar fazer esse atendimento. Fábio Gomes de Matos disse ainda que no atual sistema político, quer federal, estadual ou municipal, independente da esfera ou posição partidária, historicamente só destina 2% da verba da saúde para a saúde mental. Enquanto isso, complementou o professor, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que as incapacitações provocadas por transtornos mentais, de todas as doenças que existem na humanidade, corresponde a 30%.

Especialista defende dobrar verba destinada à saúde mental

“Como é que 2% vão dar conta de 30%? Obviamente, não vão. Nós estamos propondo a cada um dos candidatos a prefeito de Fortaleza que se comprometa de aumentar a verba da saúde mental para 4%. Ainda é muito pouco, mas é pelo menos o dobro do que é destinado hoje. Se a gente quer realmente ter uma política pública de prevenção do suicídio temos que ter verba. Não existe só boa vontade, o discurso, se não estiver apoiado na prática, fica uma palavra vazia”, salientou.

Dados estatísticos apresentados pelo coordenador do Pravida apontam que, por ano, 800 mil suicídios são registrados no mundo. No Brasil, são 14 mil por ano. No Ceará, são cerca de 600 por ano. Significa que, em média, dois cearenses morrem por suicídio todos os dias. É uma das principais causas de morte e a segunda maior causa de morte no mundo na faixa etária de 15 a 29 anos, acrescentou o especialista. “Adolescentes e adultos jovens estão em tremendo risco de suicídio”, alertou.

“Ninguém é suicida, as pessoas estão suicidas”, frisa o especialista

A relação perigosa do suicídio com armas de fogo foi um ponto alertado pelo psiquiatra. “Arma não dá certo em casa que tem uma pessoa com ideação suicida. Há uma ambivalência. Ninguém é suicida, as pessoas estão suicidas. Tem horas que eu quero morrer, tem horas que eu não quero. E o que é mais grave: 80% comunicam a sua intenção. Pode não dizer que quer morrer, mas, por exemplo, que quer dormir para sempre, só acordar quando os problemas estiverem resolvidos, a gente tem que estar atento para o que a pessoa vai dizer e temos que acolher. Muitas pessoas perguntam: o que você diz a uma pessoa que quer se matar? Eu não digo nada, eu escuto, porque essa pessoa tem um sofrimento imenso e parece que ninguém está escutando. Então eu vou escutá-la e vou ajudá-la a superar isso”, disse.

Confira a palestra na íntegra:

Busque ajuda profissional

Tristeza, sensação de vazio, sentimento de culpa, baixa autoestima, sono e apetite alterados, cansaço, falta de concentração, irritabilidade, além de interpretação distorcida e negativa da realidade são alguns sintomas de depressão. Caso você esteja sentindo algo assim, lembre-se que para todo problema há solução. Não hesite em buscar ajuda profissional.

Em todo o Estado, esse apoio é prestado pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e por unidades como o Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM) e o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC). É feito atendimento também no Programa de Apoio à Vida (Pravida) da Universidade Federal do Ceará (UFC): (85) 3366.8149 e (85) 98400.5672. E de forma remota pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), por meio do número 188 ou pelo site www.cvv.org.br.

Nos casos de urgência e emergência, deve-se acionar a Polícia Militar do Ceará (PMCE) pelo 190, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no 192 ou o Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) no 193.

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Luana Lima

Jornalista

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