Vitória

Recuperados da Covid-19, Oficiais de Justiça contam histórias de luta e superação

Sávio Caldas e Rildo Márcio Gomes contam a batalha travada para vencer a doença, as angústias da internação, a felicidade de retornar para casa e as lições que tiram de toda essa experiência

28/04/2021
Fotos: Arquivo pessoal

Os noticiários estampam todos os dias os alarmantes índices de casos e óbitos registrados por Covid-19, mas em meio a tantas notícias ruins há emocionantes histórias de luta e superação. É o caso dos Oficiais de Justiça Sávio Caldas, que trabalha na Ceman de Fortaleza, e de Rildo Márcio Gomes, lotado em Aquiraz. Eles contam a batalha travada para vencer a doença, as angústias do período de internação, a felicidade de receber alta e poder retornar para casa, e as lições que tiram de toda essa experiência vivida. Ainda marcados pelo trauma de encarar complicações de um vírus silencioso e invisível, eles falam do receio de voltar às ruas para cumprir o mister e reforçam a importância de a categoria dos Oficiais de Justiça ser incluída no grupo prioritário de vacinação.

No dia 30 de janeiro, a esposa de Sávio Caldas começou a sentir moleza no corpo, no dia seguinte, em um domingo, ele teve febre e, na segunda-feira, a filha de 15 anos também começou a apresentar os sintomas. Três dias depois fizeram o teste e os três deram positivo. O oficial conta que, com cerca de três dias de medicação, elas ficaram boas. Ele, no entanto, após 12 dias tendo febre e depois de ter ido algumas vezes ao hospital tomar corticoide na veia, acordou na madrugada do dia 12 de fevereiro com temperatura de 38,5º e saturação de 85 (o normal é a partir de 95). Foi então à emergência do Hospital da Unimed, onde foi internado de imediato.

Luta

Para ter um acompanhamento mais de perto, Sávio optou por contratar um médico, o que fez a diferença, pois ele estava sempre em contato com os profissionais do hospital. Aos poucos, o seu corpo começou a reagir. De seis litros de oxigênio reduziu para quatro, depois dois, até que ficou só com um. Foi quando informaram que o oxigênio seria retirado e, caso passasse dois dias bem, poderia ir para casa.

Antes da alta, no entanto, ainda passou mais um momento de aflição. O hemograma apresentou alterações e uma profissional teria dito que, naquelas circunstâncias, o médico não o liberaria. “Eu me desesperei, não aguentava mais ficar ali. Quando o médico chegou, explicou que eram alterações próprias da Covid, que eu ainda passaria um tempo para regular as taxas e disse que eu estava de alta. Aí a gente ficou aliviado e foi pra casa, mas ainda teve essa apreensão no último dia”, conta.

Ao todo, foram nove dias de internação, sendo três na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Chegou a ter 60% dos pulmões comprometidos e, depois de toda essa apreensão, a tão esperada alta veio dia 21 de fevereiro. “É uma doença que mexe com a gente. Depois de pegar, não tem como seguir uma vida normal. Você fica sempre naquela ansiedade de que pode voltar tudo de novo. É diferente de uma doença que você trata e fica bom. Graças a Deus deu tudo certo, nós só temos motivos para agradecer, porque a gente vê a situação de tanta gente que perdeu a vida, mas comigo Deus foi misericordioso e a gente passou por essa”, comemora.

Vacinação

Hoje, Sávio sente medo de ir às ruas trabalhar, pois nelas há uma doença silenciosa, e reforça a importância de a categoria dos Oficiais de Justiça ser incluída no grupos prioritários de vacinação. “Sem corporativismo, de querer passar na frente dos outros, a gente entende essas prioridades, mas nós, Oficiais de Justiça, enquanto porta-vozes do judiciário, aqueles que realmente levam a justiça a efeito, estamos muito vulneráveis e devemos ser incluídos em algum grupo prioritário, sim, antes das pessoas ‘normais’, aquelas que não têm nenhum tipo de atenção especial, para que a gente possa dar efetividade aos mandados judiciais com mais cautela e segurança, com a certeza de que estamos imunizados”, frisa.

“Obrigado meus amigos, que Deus os abençoe. Que todo o cansaço que chegue até vocês seja transformado em motivação, em fé e em alegria para que mais e mais pessoas sejam curadas pela vocação que vocês têm, tão bonita”, agradeceu Sávio Caldas

A lição que tira de tudo isso? É que precisamos nos tornar pessoas melhores. “Olhar para o outro com mais misericórdia e empatia. Saber que a humildade, a generosidade e o cuidado com o próximo devem estar sempre em alta em nossos pensamentos, porque tudo passa, inclusive, a nossa vida, por um vírus que ninguém nem enxerga, então a gente tem que ajudar quem está precisando”, afirma.

Emocionado e com a mão no coração, ele agradeceu, no momento da alta do hospital, aos incansáveis profissionais de saúde que o acompanharam. “Obrigado meus amigos, que Deus os abençoe, abençoe a família de todos. Vocês foram bênçãos para mim e tem sido bênção para essas pessoas. Que todo o cansaço que chegue até vocês seja transformado em motivação, em fé e em alegria para que mais e mais pessoas sejam curadas pela vocação que vocês têm, tão bonita”, disse.

Drama

Drama semelhante viveu o Oficial de Justiça Rildo Márcio Gomes, lotado na comarca de Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza. Ele começou a sentir os sintomas no dia 17 de fevereiro, fez o teste, mas deu negativo. Como não melhorava no dia 23 de fevereiro fez novo teste e deu positivo. Na mesma hora, foi para o Hospital da Unimed. Lá o médico prescreveu a medicação e o encaminhou para casa. “Penso que ficou agravando, porque os sintomas não melhoravam”, disse. Depois de três dias, voltou à emergência, foi quando resolveram fazer uma tomografia e gasometria (para medir os níveis de oxigenação no sangue). O médico, então, informou que ele estava com 62,5% dos pulmões comprometidos, mesmo assim o mandou para casa e passou novos remédios. No mesmo dia à noite retornou à unidade e, ao ver os exames, o médico disse que era caso de internação.

Foram dez dias. Rildo conta que os primeiros foram os mais complicados, uma simples ida ao banheiro ou qualquer esforço que fizesse exigiam muito dele. “Nem a barba eu conseguia fazer, me dava logo aquela fadiga e eu não conseguia fazer”, recorda. No transcorrer do tratamento foi se fortalecendo, passou a conseguir respirar melhor e hoje está em casa, apesar de ainda se sente debilitado. A sonhada alta veio no dia 9 de março. Ele conta que, quatro dias depois, já teve de retornar ao trabalho. Porém, diz que não se sente seguro de voltar ir para a rota. “Vou, porque os mandados vão se acumulando, têm muitas audiências, então me obrigo a ir, mas ainda estou com o pulmão bastante debilitado”, observa.

Durante esse período em que esteve internado, Rildo conta que muitas coisas passaram pela sua cabeça. “A gente vê nos jornais notícias não tão otimistas, então fica logo temeroso, com aquela ansiedade, aquele medo. Você vê paciente do seu lado piorando, outro que sobe para procedimentos mais sérios, mas o meu corpo foi reagindo, respondendo ao tratamento, e foi vindo aquela esperança, confiança de que seria questão de dias para eu ter alta. Quando saí do oxigênio, ave Maria. Foi muita felicidade para mim e para minha família poder retornar para casa, diante desse cenário tão triste que estamos vendo. Graças a Deus hoje estou em casa”, celebra.

Categoria

Rildo destaca que o Oficial de Justiça é uma categoria ímpar, que deveria estar no grupo prioritário para vacinação contra o novo coronavírus. No seu caso, exemplifica que começou a sentir os sintomas e, como o primeiro teste deu negativo, continuou trabalhando normalmente. “Peço a Deus que eu não tenha contaminado ninguém, mas como eu ia saber, se o teste deu negativo?”, pondera.

Ele diz que vai trabalhar, mas fica apreensivo. “A profissão de Oficial de Justiça é muito gratificante, a gente está no seio da sociedade todos os dias, desde os menos favorecidos aos mais afortunados, está em contato direto com a população, entra na casa das pessoas, senta, conversa, explica, então a gente precisa estar protegido, até para proteger o jurisdicionado também, portanto, essa vacinação prioritária é de fundamental importância para que possamos trabalhar seguros”, reitera.

União

A doença fez com que Rildo enxergasse a vida com novos olhos. Para ele, a família é o alicerce de tudo e precisa estar bem sólida em um momento como o que passou. “A gente revê toda a nossa vida, a fragilidade que somos. Temos que procurar viver os valores que realmente interessam e ter muita fé em Deus”, afirma.

“A lição é essa, de união, de rever os nossos princípios e tomar o máximo de cuidado para ficar saudável e poder cumprir a nossa missão”, diz Rildo Gomes

Ele destaca ainda as inúmeras manifestações de oração e fé que recebeu de familiares e amigos. Menciona a categoria dos Oficiais de Justiça e os colegas que estavam todos os dias em busca de informações do seu estado de saúde, e também o Sindicato dos Oficiais de Justiça do Ceará (Sindojus-CE), de quem recebeu apoio incondicional, e frisa que é muito grato por tudo. “A lição é essa, de união, de a gente rever os princípios e também tomar o máximo de cuidado possível para ficar saudável e poder cumprir a nossa missão, sem correr riscos”, finaliza.

Sob o som de sinos e aplausos, Rildo saiu do hospital vestindo uma blusa de nossa senhora e passou pelo corredor humano agradecendo aos heróis da saúde que o ajudaram a vencer essa batalha.

Dados

De acordo com dados do IntegraSUS, plataforma da Secretariada Saúde do Estado (Sesa), o Ceará teve, até hoje, 661.844 casos confirmados de Covid-19, 17.178 óbitos, dos quais 5 foram confirmados nas últimas 24 horas, e índice de letalidade de 2,6%. Já as pessoas recuperadas somam 453.011. Levantamento feito pela Federação das Entidades Sindicais dos Oficiais de Justiça do Brasil (Fesojus), juntamente com o portal Infojus e UniOficiais, em todo o Brasil, 65 oficiais e oficialas de Justiça morreram vítimas da Covid-19, sendo dois do Ceará. Em todo o Estado, mais de 90 oficiais e oficialas já contraíram a doença. Por exercerem atividade predominantemente externa, estes servidores acabam ficando mais expostos ao vírus.

Assista ao vídeo com o momento da alta dos Oficiais de Justiça Sávio Caldas e Rildo Gomes:

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